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  • Foto do escritorMatheus Maggi

Como entrei para o mundo das legendas?

Atualizado: 30 de ago. de 2020



Decidi criar o blog com foco na legendagem e com o intuito de tentar mostrar um pouco dos "bastidores" dessa parte maravilhosa da tradução audiovisual - as legendas que fazem com que você acompanhe conteúdos audiovisuais no idioma original, sendo de língua estrangeira ou da língua local.


O primeiro post precisava ser para responder a uma pergunta que as pessoas frequentemente me fazem: "Como você começou a trabalhar com legendas?" A resposta não é tão simples e tudo começou há mais de uma década.


Desde pequeno, sempre gostei muito de assistir a programas de televisão, principalmente seriados. Na época, eu consumia apenas materiais dublados, já que via pela TV aberta. Aproximadamente em 2007, comecei a ter interesse em assistir vídeos no áudio original, porém não tinha legendas, então tentava entender o contexto pelas cenas e com meu vocabulário em inglês limitado. Eu me esforçava, não entendia, mas continuava repetindo o mesmo processo.


Em 2010 comecei a ter meu primeiro contato com as legendas embutidas em arquivos de vídeo em .rmvb, as famosas fansubs — legendas voluntárias feitas por fãs que eram disponibilizadas alguns dias após a exibição de um determinado conteúdo audiovisual. Com as legendas ficava mais fácil entender todo o contexto e também melhorar o vocabulário, já que eu analisava o áudio e o texto traduzido ao mesmo tempo enquanto assistia.


Sem saber como as legendas eram feitas, em 2011 um colega me chamou para traduzirmos um filme infantojuvenil que havia sido lançado. Minha primeira pergunta foi "Como?" Encontramos o filme na internet, fizemos o download e fomos atrás de uma legenda em inglês já pronta para ele. Baixamos um arquivo em um formato estranho (.srt) que eu nunca tinha visto. Procuramos na web uma forma de abri-lo e descobrimos que podia ser aberto pelo Bloco de Notas. Fiz algo bem arcaico: traduzir metade da legenda no próprio Bloco de Notas e assistir ao filme no player ao lado simultaneamente. Nem me passou pela cabeça que existia um programa para editar legendas. Afinal, de onde veio aquele arquivo .srt?


Depois de muitas horas gastas, terminamos, juntamos nossas partes e disponibilizamos as legendas sem se preocupar com nada. Quais padrões teríamos, se mal sabíamos como editar uma legenda? Foi o meu primeiro contato com a criação de uma legenda.


Ainda no ano de 2011, meu vício em assistir às séries legendadas foi ficando cada vez maior, começando com Terra Nova. Fui descobrindo cada vez mais séries, assistindo e treinando o inglês com elas utilizando as legendas em português como ferramenta. Em 2013, quando comecei minha faculdade de Engenharia Civil e com o inglês já melhor do que anos atrás, minha série preferida da época, Being Human, havia ficado sem legendas na 3ª temporada, e eu queria muito ver. Uma das equipes de fansub resgatou a série e precisava de toda ajuda possível na criação das legendas. Eu fui atrás para me voluntariar e me ofereceram um treinamento detalhado no programa Subtitle Workshop. Foi só aí que descobri que as legendas precisavam seguir um padrão específico e que não podia ser feito de qualquer forma. Treinei bastante, entrei para a equipe e ajudava em algumas séries que entravam para a equipe.


Continuei fazendo fansubs e me aperfeiçoando cada vez mais, ainda que não recebesse nada por isso, exceto alguns agradecimentos. Fui entrando em algumas outras equipes pelos conteúdos que elas legendavam e fui ganhando mais prática conforme ajudava. Em 2015, agora utilizando o programa Subtitle Edit, fui convidado para revisar uma série, The Expanse, e com isso fui aprendendo ainda mais, pois via os erros dos outros. Fui passando feedback a eles e melhorando as minhas próprias legendas com base nisso — os olhos de um revisor são diferentes de quem apenas traduz, você passa a se incomodar com erros que quase não são percebidos.


No início de 2017, saiu a notícia de que a maior empresa de streaming abriria um teste para contratação de freelancers tradutores de legenda. Claro que foi um alvoroço na época porque era o sonho de todos os que faziam legendas voluntárias. Fiz o teste Hermes e, apesar de ter pontuado 88% nas questões alternativas, acabei não passando porque a nota de corte aumentou bastante devido ao grande volume de inscrições para o português brasileiro, indo para 89,33%. Fiquei um pouco desanimado e estava terminando a faculdade, então não tinha muito tempo livre. Uma amiga de uma das equipes de fansub me encorajou a tentar fazer o teste para empresas de legendagem. Sem esperanças que desse resultado, pois eu não tinha portfólio "oficial" nenhum, acabei passando no teste de duas empresas no meio do ano.


No começo de 2018 eu ainda não havia recebido projeto algum das empresas em que havia passado e pensei que não fosse dar certo. Fiquei com aquele sentimento de "mais um na multidão". Eu estava recém-formado e também não conseguia encontrar emprego na área de formação. Continuei fazendo minhas legendas voluntárias e estudando até que algo surtisse efeito. Apesar do desânimo, em fevereiro daquele ano, peguei um curta de ficção científica no YouTube, fiz a legenda dele e tentei a sorte enviando ao diretor do mesmo — o meu pontapé inicial. Ele me agradeceu pela boa vontade e disse que colocaria a minha legenda nos canais oficiais onde o filme estava disponibilizado (YouTube e Vimeo). Foi ali que vi a minha primeira chance: o meu primeiro portfólio.


Menos de um mês depois, a empresa no qual já estava no banco de dados há sete meses me chamou para participar do meu primeiro projeto. Fiquei muito contente e era ali que eu teria a minha primeira chance profissional. Fiquei um pouco apreensivo porque eu sabia que precisava fazer um bom trabalho para ser chamado mais vezes. Li todas as instruções e guias de estilo da empresa umas oito vezes para ter a certeza de que faria um bom trabalho, afinal os padrões eram diferentes dos que estava acostumado e eu utilizaria a plataforma da própria empresa, não podendo usufruir do programa com que já estava acostumado.


De 2018 para cá, fui tendo mais oportunidades, me aperfeiçoando muito com os feedbacks dos revisores que já estavam no ramo há mais tempo do que eu, fui criando portfólio e, com isso, buscando uma nova carteira de clientes com a experiência adquirida desde 2011. Desisti de seguir carreira na engenharia, usando apenas os conhecimentos adquiridos dela nas próprias legendas: a linha de raciocínio e a organização. Optei por começar uma pós-graduação de tradução audiovisual e continuei fazendo as legendas voluntárias até o fim de 2019, quando fiquei sem tempo e decidi que era a hora de ir atrás de outros horizontes. Na metade de 2020, senti a necessidade de regularizar minha situação e abrir minha própria microempresa. Desde então, estou muito contente e feliz no ramo da legendagem profissional.


Como se pode observar, não foi uma coisa que aconteceu da noite para o dia. Foram anos de experiência que culminaram nisso. Hoje posso dizer com orgulho que ser legendador é a minha paixão e sempre tive indícios de que acabaria na área, eu só não sabia na época...

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